Quick: O CTO desequilibrado

Hoje bloqueei um determinado CTO no LinkedIn. É fato que eu não economizo blocks, mas dessa vez o motivo foi diferente do clássico “esse cara só posta bobagens sem conteúdo disfarçadas de grande conteúdo”.

Esse colega trabalha numa empresa que faz um trabalho bem interessante e, pelo que vi, talvez poderia contribuir muito com insights legais sobre as tecnologias que usa. Entretanto, seu desequilíbrio emocional acabou fazendo com que suas últimas postagens fossem todas bastante tóxicas, o tipo de coisa que faz com que você se sinta meio estranho quando lê, mais ou menos como quando dois amigos seus brigam bem feio, você não tem muito como ajudar e acaba só observando e se sentindo meio estranho.

A coisa toda começa com uma postagem a respeito de uma personagem que recebeu uma proposta de emprego em uma empresa legal, com bom salário e tudo o mais. O sujeito recusou porque preferia a liberdade de “dirigir Uber”. E o CTO Desequlibrado chegou a comentar que considerava “ser motorista de aplicativo” uma forma de empreender.

Não sei se concordo totalmente, não sei se discordo totalmente, e é exatamente isso que torna a coisa toda “food for thought”. Achei interessante, me fez pensar em algo novo, dei like.

Mas acontece que, em seguida, alguém comentou a respeito da questão salarial. Obviamente, uma desvirtuação completa da discussão, já que era claro que o rendimento com Uber seria menor que o da vaga de emprego e isso era justamente “o tempero” da história toda. E tal comentário foi feito daquele jeito agressivo que muita gente tem quando está no teclado, e que em muitos casos jamais teria se fosse uma interação face a face.

E aí começam os problemas. A resposta do CTO foi sobre o motorista ganhar “mais que você, menos que [sei lá quem|acho que era o Elon Musk]”. Houve réplica, e a tréplica do CTO, por sua vez, foi “eu sei a média salarial da empresa em que você trabalha e você ganha pouco mesmo” (ou algo assim, escrevo de memória).

Vê? Eu já me sinto meio mal só de repetir esse tipo de interação.

Mas a gota d’água foi quando esse mesmo CTO estava sendo incomodado por alguma pessoa, sabe-se lá quem, e resolveu postar que entrou no perfil da figura, viu que ela postava críticas a um monte de gente, adjetivou a pessoa de “perdedor” e a essência do post era “vi que não vale meu tempo”.

Mas, ué!, não vale teu tempo mas você teve todo esse trabalho e ainda terminou escrevendo uma nova postagem no LinkedIn a respeito do cara?

Eita.

Peralá, peralá… blocked!


É claro, eu admito que não sou perfeito e não é a minha própria suposta “elevação espiritual” que serviria como parâmetro para analisar esse tipo de situação. Mas sei que posso contribuir um pouco contando sobre minha própria experiência.

Sempre me expressei internet afora, geralmente via texto, e admito que não sou exatamente a pessoa mais sensível e delicada do mundo. E, se isso é verdade hoje, imagine há mais de dez anos!

Pois eu fui aprendendo, bem aos poucos, às vezes tomando pancada, às vezes vendo o belo exemplo de outros, a tomar mais cuidado tanto com meu equilíbrio emocional quanto com minha forma de me expressar.

A regra de ouro, desde algum tempo, tem sido a seguinte:

  1. Você pode ficar furioso. Não tem problema. Curta seu momento de fúria.
  2. Só não tome nenhuma atitude enquanto sua cabeça não esfriar.

Obviamente, isso pode ser um desafio e tanto. Mas é sábio. Tomar decisões “com o sangue fervendo” é a pior coisa que pode-se fazer, pois a raiva e o desequilíbrio em geral fazem com que nossa racionalidade saia pela janela para ir tomar um sol no quintal e voltar só depois de algum tempo, geralmente algumas horas.

Depois, é importante tomar muito cuidado com a adjetivação pessoal. Referir-se ao próximo como “perdedor” é um sinal de tanta coisa errada no coração da figura que eu nem sei por onde começar… Mas é evidente, acredito eu, que esse é um caso clássico em que “o problema não são os outros, mas você mesmo”.

E, claro, “tomar cuidado” não é o mesmo que “nunca faça”. Cá estou eu, por exemplo, referindo-me a uma pessoa como “o CTO Desequilibrado”. E garanto que tomei muito cuidado ao escolher esse “título”. No fim das contas, me parece bem adequado, especialmente porque transmite um pouco de reflexão pessoal tanto para mim (pois eu mesmo sou um CTO, então é só mais um passo para eu perder a linha e tornar-me eu mesmo um “CTO desequilibrado” também) quanto para você, leitor (que espero que esteja refletindo a respeito, pensando se você mesmo, de vez em quando, não dá uma de desequilibrado também).

Além disso tudo, uma regra que tenho adotado é a de evitar ao máximo postar qualquer coisa que não sirva para construir. Se eu estou me sentindo de alguma forma e quero expressar isso, tenho me acostumado a perguntar a mim mesmo: “mas isso edifica quem vai ler?”.

Particularmente, acho que os perfis mais interessantes em qualquer rede social são justamente aqueles nos quais eu percebo que tem um filtro bem rigoroso sobre o que será postado. De certa forma, é como aquele personagem mítico genérico (pelo menos na minha cabeça) que passou os últimos vinte ou trinta anos sem falar uma palavra, mas hoje resolveu dizer algo. É de se imaginar que alguém assim vai falar algo que seja extremamente relevante, não? Pois é. Tem gente que só se manifesta para falar algo que tenha valor e nada mais. E esses são os meus perfis favoritos.

E, enfim, mesmo que isso tudo seja coisa que você já sabia, acredito que sempre é bom rememorar essas ideias que nos ajudam, de alguma forma, a sermos pessoas que edificam mais do que destroem. Acho curioso aplicar o famoso ditado (de autoria difícil de precisar) a essas questões pessoais:

O preço da liberdade é a eterna vigilância.


Este artigo foi escrito originalmente em 16/06/2019.